Finanças Familiares – Sobreendividamento – Ricardo Frade

Nos artigos anteriores abordámos temas como passivos (dívida e crédito), ativos (investimentos, imóveis e capital), liquidez (dinheiro “vivo”) e valor líquido (o valor global da nossa vida financeira), e ainda de poupanças no dia-a-dia. Hoje falaremos de sobreendividamento.

Conhecerá certamente alguém que não está a conseguir pagar tudo o que deve aos bancos, que mal tem dinheiro para as necessidades básicas, isto apesar de trabalhar e até, quem sabe, ter um bom ordenado. É o drama do sobreendividamento: há dinheiro, mas não chega.

O sobreendividamento acontece quando calculamos mal o que podemos pagar, quando não controlamos os créditos que contraímos, quando a taxa de juro sobe sem que estejamos preparados ou, simplesmente, quando começamos “a tapar um buraco com outro crédito” e não paramos. Se não for “atacado” assim que se detecta é como um cancro que alastra e destrói a nossa vida, financeira, familiar e social.

Então como evitamos esta situação? Há várias formas de o fazer.

Prevenir é a regra número um. Para que uma família ou indivíduo tenham capacidade de pagar a sua dívida a soma das prestações nunca deve ultrapassar 20% do rendimento mensal. Apesar de muitas pessoas falarem de 30% devemos lembrar-nos que as taxas Euribor variam: actualmente rondam 0%, mas em 2008 ultrapassaram os 5% (uma casa que hoje custa 250€/mês chegou a custar, nessa altura, 800€). Ao usar uma barreira de 20% ganha-se folga para aguentar uma fase de subida da taxa.

Outra regra importante é seleccionar o que se vai comprar a crédito. Muitas vezes acabamos a cair na tentação de comprar a crédito coisas dispensáveis só porque a prestação é baixa, e não nos apercebemos que a soma de todas as prestações baixas nos pode arruinar. Férias, electrodomésticos dispensáveis, TV de último modelo, carro novinho em folha, telemóvel de última geração, existem imensas coisas que devemos ponderar muito bem antes de comprar porque, pensando bem, conseguimos facilmente viver sem elas e, com elas, ficamos “entalados” em prestações.

É também fundamental controlar o prazo, as taxas e o tipo de crédito que fazemos. É um crédito de taxa fixa ou variável? A prestação é constante ou varia como a taxa? Tem uma garantia (como o carro)? Podemos amortizá-lo, pagá-lo mais cedo? Quanto tempo dura? Qual é a taxa? É barata ou cara? Se não compra coisas na loja mais cara porque é que há-de contrair um crédito com a taxa alta, caro?

Por fim, é muito importante que tenha uma reserva financeira que lhe permita viver pelo menos 6 meses, se ficar desempregado, se surgir algum imprevisto ou se ficar doente. Quanto precisa mensalmente para viver? Junte o equivalente a 6 vezes esse valor, será a sua reserva para qualquer emergência.

Assim sendo, lembre-se sempre: prestações até 20% do seu rendimento, escolha bem o que precisa mesmo, estude as condições do crédito a fundo e faça um bom “mealheiro” para qualquer emergência.

Mas e se já estivermos sobreendividados?… Se a situação já for de sobreendividamento as suas finanças poderão ficar de tal forma descontroladas que perderá tudo. Há contudo quatro passos que deverá tomar de imediato para o evitar:

  1. Fale com o seu banco e peça para negociar os seus créditos. Se não se sente à vontade para o fazer procure a ajuda de um consultor profissional que o ajude, um amigo que percebe de finanças ou uma associação como a Deco, que faz este trabalho com os seus associados. Procure baixar a prestação negociando a taxa ou aumentando o prazo. Mas lembre-se: estas medidas, por si só, não servem de muito se não forem acompanhadas por mudanças na sua vida, porque se continuar a fazer tudo igual o resultado será de certeza o mesmo.
  2. Engula o seu orgulho (ele pode leva-lo(a) à ruína) e peça ajuda: explique à sua família e amigos o que se passa, eles compreenderão e ajudarão certamente. Não imagina como as pessoas podem ser generosas com os que amam nem a quantidade de coisas que podem fazer por si e que o aliviarão de muitas pequenas despesas sem qualquer custo para eles (frutas, legumes, roupa, livros escolares, electrodomésticos, trabalho, são apenas exemplos de coisas que já vi serem dadas em situações destas).
  3. Faça uma lista de tudo o que pode dispensar e “corte a direito”! Aprenda a cozinhar, leve farnel para o emprego e jante em casa. Encontre os seus desperdícios (como o ginásio a que nunca chega a ir mas que tem mensalidade) e desista dessas coisas, baixe os seus custos. Venda as coisas que já não usa (há feiras de velharias e sites especializados na internet que pode usar). Mais uma vez, se não percebe de computadores peça ajuda, alguém o vai ajudar certamente.
  4. Por fim aumente os seus rendimentos. Só terá um emprego melhor se o procurar. Só terá um aumento se o merecer e o pedir. Venda uns ovos aos amigos, faça uns bolos, uns biscates de carpintaria, arranje um part-time, mexa-se! Choramingar nunca resolveu nada, e só você pode dar a volta à sua vida, está nas suas mãos!

Se é esta a sua situação já sabe: renegociar com ajuda de profissional (há muitas entidades e consultores a fazê-lo, atualmente), pedir ajuda à família e amigo, cortar despesas “a direito” e aumentar a receita, o dinheiro que recebe. Faça um plano e ponha-o em prática, verá resultados que nunca sonhou possíveis!

No próximo artigo explicaremos melhor que tipos de crédito existem, e porque é que alguns são “bons” e outros “maus”.

Entretanto envie as suas dúvidas financeiras para consultorfinanceiro.rf@gmail.com.

 

Artigo de Ricardo Frade

Consultor Financeiro, Autor do livro Pé Descalço, Orador e Personal Advisor.

 

 

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