FUMAR – Quais os perigos para a família?

Quando fuma uma pessoa não está a colocar apenas a sua saúde em risco. Os seus familiares também podem sofrer diretamente o efeito do fumo dos cigarros.

Nos dias que correm todos sabemos que fumar faz mal. No entanto o consumo de tabaco a nível mundial não diminuiu de forma significativa nas últimas décadas e o cigarro é, muito provavelmente, o principal fator de risco para a maioria das doenças. Uma em cada cinco mortes nos EUA é atribuída diretamente ao tabagismo, de acordo com dados de 2013 anunciados pela American Cancer Society.

Resumidamente, o tabaco contém mais de 7000 produtos químicos, com pelo menos 69 produtos químicos cancerígenos. Parece estranho como ainda existem milhões de fumadores, não é? Os dados em Portugal são assustadores. Em 2015 um terço da população fumava ou tinha fumado recentemente e o tabagismo foi o responsável direto por 11% das mortes no país. Existe ainda um maior predomínio dos homens: 31% versus 22% nas mulheres.

Como médico, e pneumologista, este é um tema que me é muito caro. A maioria dos meus doentes fumadores diz que quer parar, mas poucos conseguem definir uma data para que eu os consiga ajudar. É verdade que o tratamento farmacológico ainda é um pouco dispendioso, mas a verdade é que a questão económica não é a única culpada.

A maioria das pessoas associa o risco de fumar a problemas de saúde do fumador. Muitas vezes esquecemo-nos de que quem vive com essas pessoas também está em risco: estamos a falar de companheiros, familiares e crianças. Até as grávidas fumadoras e que continuam a fumar estão a prejudicar a vida que estão a gerar.

Deste modo, é importante que se fale um pouco mais dos riscos do fumo do cigarro para as pessoas próximas dos fumadores.

Ou seja, quando uma pessoa fuma, não é apenas sua saúde que está em risco: a saúde de família também pode estar em perigo. Os seus familiares não decidiram ou escolheram fumar, mas estão igual e involuntariamente sujeitos aos efeitos nocivos do tabaco.

Não vale a pena estar a pensar que pode trocar o cigarro pelo charuto ou o cigarro eletrónico. O perigo é o mesmo, só que com uma máscara diferente, aliás, é público que a Sociedade Portuguesa de Pneumologia recentemente emitiu um parecer negando qualquer vantagem dos cigarros eletrónicos.

A única solução para este problema passa por nunca tocar no cigarro. Se já o fez, procure ajuda médica e decida-se a mudar de vida. Vai sentir-se melhor e a sua família também.

Fumador passivo – o que é isso?

O fumo passivo acontece quando uma pessoa respira o fumo exalado pelo fumador ou a fumaça decorrente do cigarro aceso, por exemplo no cinzeiro. Muitos médicos chamam a isto de “fumador em segunda mão”.

Vários trabalhos científicos sobre o tabagismo passivo revelaram que este pode ser tão perigoso quanto o tabagismo ativo (ou seja, o efeito do fumo no próprio fumador). Desde logo destaco o aumento da probabilidade de desenvolver cancro do pulmão (este risco pode ser 20-30% superior ao normal) ou do risco de morte precoce bem como a presença de um risco de doença cardíaco compatível ao de um fumador.

O fumo passivo é responsável por 3.400 mortes por cancro do pulmão a cada ano, de acordo com a American Lung Association. Tem ainda um papel ativo em mais de 46 mil mortes relacionadas com as doenças cardiovasculares e estimula centenas de milhares de casos de asma. Um estudo revelou que mais de 40% dos não fumadores com 3 ou mais anos de idade tinham níveis de nicotina no seu sangue, o que é indicativo de ter ocorrido exposição recente ao fumo passivo. Esse número sobe para 54 por cento em crianças com 3 a 11 anos e que vivem com um fumador.

Muitas pessoas pensam que por fumar fora de casa eliminam drasticamente o risco de ocorrer inalação fumo passivo por parte dos seus familiares, no entanto isto não parece ser verdade, uma vez que estudos recentes revelaram que os níveis de nicotina no cabelo das crianças continuam relativamente altos, mesmo quando os pais fumam no exterior do seu domicílio.

O perigo na gestação de uma nova vida

 A maioria dos casais desejam ter filhos, no entanto se forem fumadores tenham cuidado: o fumo pode ter um efeito nefasto direto na saúde de um recém-nascido. Um estudo revelou que 12% dos bebés (com pelo menos um pai fumador) apresentaram menor peso ao nascer, versus 7,5% nos casos em que nenhum pai era fumador. As mulheres grávidas que fumam têm um maior risco de aborto espontâneo e as suas crianças apresentam deficiências no desenvolvimento com mais frequência. Apesar dos riscos, pelo menos 10% das mulheres grávidas fumavam segundo a American Lung Association. Todos os médicos recomendam que é melhor deixar de fumar antes de engravidar ou o mais cedo possível durante a gravidez. De qualquer modo, parar de fumar em qualquer momento da sua gravidez reduzirá os riscos para a saúde em ambos.

A influência nos seus filhos

 A American Lung Association também refere que 90% dos fumadores experimentaram um cigarro pela primeira vez antes dos 21 anos de idade e que cerca de 50% desenvolvem consumo prolongado antes dos 18 anos. Sabemos que os colegas de escola e amigos podem ter uma influência importante neste capítulo, no entanto muitos jovens fumadores são filhos de pais fumadores. É importante que se dê ao filho um bom exemplo, mostrando-lhes que fumar é inaceitável. Se o seu filho o vir a fumar ou estiver acostumado à presença do fumo ou do maço de tabaco, o tabagismo estará desde cedo presente na vida dele e poderá estar mais tentado a experimentar.

A sua família precisa de si

 Não vale a pena esconder a realidade – ao fumar está a colocar-se num ambiente perigoso para a sua saúde, e isto pode prejudicar a sua família e termos emocionais, funcionais ou financeiros. Por exemplo, se não consegue abdicar de fumar durante as refeições pode ser difícil arranjar uma mesa num restaurante. O maço de tabaco está cada vez mais caro e os encargos financeiros para o adquirir podem impedir que use esse dinheiro para fins mais importantes ou benéficos para os restantes elementos da família.

Por fim, as doenças provocadas pelo tabaco são das que apresentam maior taxa de mortalidade e ao continuar a fumar pode estar a privar-se de acompanhar o desenvolvimento dos seus filhos e netos, bem como a privá-los de o terem a si. A perda precoce de um familiar próximo pode afetar o seu desenvolvimento.

O tabaco é também o principal agente de uma das doenças respiratórias crónicas que pode atingir níveis elevados de dependência de terceiros, o que pode levar a um grande esforço por parte dos seus familiares para cuidar de si.

 

 

BIBLIOGRAFIA

www.dpoc.pt

http://www.lung.org

https://www.cancer.org

 

AUTOR: João Cravo – Médico Pneumologista (Especialidade nos Hospitais da Universidade de Coimbra)

Coordenador Geral do DPOC.PT – www.dpoc.pt

www.joaocravo.pt

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